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quinta-feira, abril 26, 2012

O retorno do recalcado



Há alguns meses precisei trancar minha pós. Naquele momento, eu tinha acabado de escrever um trabalho (como um artigo, só que menor) sobre um tema da minha escolha relacionado à Metapsicologia - 1ª tópica. Nem vou entrar nos detalhes sobre o que é isso. Mas me lembro que desde o início eu tava pensando em escrever sobre Psicossomática, sobre essa relação psiquê e o corpo...em como muitas doenças podem ser manifestações psicológicas...de algum trauma, por exemplo...

Mas isso não aconteceu...aliás, eu acredito que quando você estuda algo como Teoria Psicanalítica, o próprio objeto de estudo acaba mexendo demais com você...principalmente quando se trata de algo tão íntimo...como sua mente. Às vezes, eu me sentia "nua" nas minhas aulas. Olha, eu adoooooro Freud, adoro a Teoria Psicanalítica e mesmo não acreditando cegamente em tudo o que Freud acreditava, eu tenho que dizer que na maioria das teorias formuladas por ele, eu conseguia me "ver" ali, como um exemplo do que ele tava falando.

É fato de que quando você estuda Psicologia, Psicanálise e afins, você passa a ter essa sensação horrível de que você tem tudo o que está nos livros...

Tá, dei essa volta toda pra tentar explicar porque foi o tema do meu trabalho que me escolheu ao invés do contrário.
Quando dei por mim, eu estava escrevendo sobre ...narcisismo!!!! NARCISISMO!!!! O que é que isso tinha a ver comigo? E com o meu interesse em psicossomática? Nada!!!

Mas durante as semanas que estudamos sobre Narcisismo, falamos muuuuuuito sobre paixão *pasmem*.
E o que a paixão tem a ver com o narcisismo? Eu também me perguntava isso. Daí, descobri: TUDO!!!!

E eu, que havia há algum tempo sufocado meu romantismo e tentado me tornar cínica e indiferente, me peguei, numa manhã de quinta-feira (dia da entrega do trabalho) escrevendo "A Paixão: Um fenômeno narcisista".

Okay, o título não é lá essas coisas não.
O fato é que me peguei escrevendo sobre a razão pela qual todo mundo se apaixona...quer dizer, não consigo acreditar que um psicopata seja capaz de se apaixonar, mas essa não é a questão. O fato é que, segundo Freud, as pessoas se apaixonam devido a um mecanismo de defesa que ocorre lá no comecinho da infância. Não vou entrar em detalhes sobre isso aqui porque não vem o caso. Mas acontece.

E então, surge essa pessoa na sua vida. Essa pessoa especial. Essa pessoa que, de repente, ficou tão inacessìvel, inatingìvel. Essa pessoa é aquele cara (ou aquela mulher...vai da preferência da pessoa) que tá sempre em um pedestal. Ele é TUDO. Ele é lindo, é legal, é inteligente, super seguro de si, confiante, ele sabe tudo!!! Ele é quase um deus e você é um nada perto dele.

Aí, você não dorme porque não para de pensar nele, de fantasiar sobre ele, de imaginar mil e uma cenas em que por um milagre, por alguma coisa fantástica que tenha acontecido no universo, ele te viu!!! E então vocês estão juntos e você não consegue respirar de tanta alegria e de tão chocada que você está por isso ter acontecido...e de medo. Medo de que isso seja um sonho...de que não seja real, de que não vai durar, de que você é só um passatempo enquanto ele não encontra alguém à altura dele, porque você com certeza não está. (É o que o Freud chamava de "enfraquecimento do ego diante da supervalorização do objeto de amor").

Daí, você se pega desejando que tudo dê errado logo, que a decepção venha logo. Vem aquela sensação de auto sabotagem. Parece que antes dele te notar, sua vida era melhor! Você vivia angustiada mas tinha esperanças. Uma esperança dolorosa que te fazia acordar todos os dias torcendo pra que aquele dia fosse diferente...mas quando esse cenário muda, quando ele percebe a sua existência, tudo muda!

Primeiro vem aquela angústia do medo do abandono, depois as dúvidas quanto ao que ele realmente sente, depois ele vai ficando diferente e seu medo, sua angústia vai virando...raiva...sei lá!

Você começa a se perguntar o que foi que você viu nesse idiota!

Paixão não satisfeita dói. Mas a paixão satisfeita dói muito mais (como já dizia T.S. Elliot).

Antes de você, querido leitor ou leitora me acusar de estar sendo radical demais, pessimista demais, equivocada demais, só posso dizer umas 2 coisinhas a meu favor:

1. Essa é a paixão e não o amor. A paixão vai até esse estágio em que você percebe que esse cara não é aquele que você pensava que fosse. Ele é um idiota. Fala muita besteira, conta piada sem graça....oh...ele tem defeitos!!!! Não tem um pedestal embaixo dele não. Ele é tão humano, tão imperfeito quanto você.
2. Depois dessa decepção, vem o amor. Pelo menos é nisso que eu acredito...pronto, falei! Lá no fundo eu acredito nisso sim. Acredito que depois que você pára com a teimosia de tentar ver esse "novo" como o cara do pedestal, você começa a gostar do idiota. Os defeitos dele vão te deixar louca. Mas quando vocês estiverem longe, você vai sentir falta até desses defeitos...

Não sei...acho que até hoje eu nunca cheguei nesse outro estágio. Só fui até a paixão satisfeita...e provavelmente foi isso que me fez querer sufocar meu romantismo a qualquer custo. E isso nunca dá certo. Freud também já falava sobre essas coisas que você sufoca (recalca) pra não se machucar. Elas sempre, sempre dão um jeitinho de voltar pra sua vida (é o retorno do recalcado!).

Se não fosse por isso, eu não teria reagido tão mal quando minha irmã me contou sobre um "conto de fadas" que aconteceu com um amigo dela e que me lembrou tanto da minha última experiência dolorosíssima de "paixão satisfeita" e também, se não fosso por isso, por que é que eu continuo assistindo comédia romântica, torcendo por casais, lendo um livro chamado Manual para românticas incorrigíveis ???????

Pois é....esse post surgiu do nada! Eu ia só comentar que estou gostando do livro...que é legalzinho (não tá me prendendo muito não) e dizer que agora o blog tem playlist (YAY).

É...aí eu acabo escrevendo quase um livro...affff


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