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terça-feira, maio 29, 2012

"My heart is...and always will be...yours..."

 

"My heart is...and always will be...yours..."
Edward Ferrars to Elinor Dashwood
by Jane Austen




Uma coisa é assistir a incrível adaptação que a Emma Thompson fez desse romance e outra, é ver uma tentativa... bem decepcionante mesmo, de adaptar esse romance para os dias de hoje e ainda misturar com conflito de cultura...ah, uma loucura!


Me refiro a um filme muito bobo que assisti: From Prada to Nada. (Sem Prada, nem nada)


Duas gurias órfãs de mãe, moram com o pai que morre no dia do aniversário. E elas que são ricas, moram em uma mansão e etc, etc, ficam chocadas quando descobrem que o pai estava falido e que elas tinham um meio-irmão, casado com uma mulher insuportável. A cunhada insuportável determina que o irmão caçula, que por mera coincidência se chama Edward Ferrars ocupe o quarto da irmã caçula (Mary) por causa da vista. Algo familiar aí?

Não há um Robert Ferrars. Mas há uma Lucy bem insossa que, logo após um mal entendido que surgiu depois de um porre de tequila vira, do dia pra noite, a noivinha do Ferrars....

Não vou nem comentar o que houve nesse meio tempo porque quando esse Edward Ferrars pede a Elionor, ops, a Nora em casamento....*choque*


O pedido desse Edward foi bem sem emoção e bem " My heart is and always has been yours...I love you Nora (...)" Como se ele estivesse dizendo algo sem importância.

Coitada da Jane Austen...deve ter se revirado no túmulo!!! Essa foi uma das piores adaptações que já assisti.
Eu sei que uma adaptação de um romance para o cinema é muito complicada. Muita coisa tem que ser deixada de fora. Mas do jeito que fizeram essa daí, a impressão que me deu é que esse filme é um Frankstein muito mal acabado.

E em relação ao pedido de casamento...esse último pareceu tão...vazio. Sem emoção nenhuma. Aliás, até a circunstância em que o pedido foi feito foi muito bizarra e sem conexão com a história. Já a versão da Emma Thompson... o Edward (Hugh Grant) se declara pra Elinor com tanta emoção...dá pra sentir o peso das palavras dele...SENTIR e não só OUVIR o que ele diz. E as pausas causam uma espécie de antecipação, de expectativa e de, ao mesmo tempo, tanta certeza do que está por vir que é insuportável.

Você consegue empatizar com a Elinor e sem saber explicar, você entende porque ela chora quando ele diz que não se casou com a Lucy. E quando ele começa a se declarar...é tudo tão maravilhosamente insuportável e forte que ela não consegue parar de chorar. Parece que algo dentro dela vai explodir. Ela SENTE o peso de cada palavra que ela OUVE dele. Sem falar na intensidade dos outros sentidos...poder VÊ-LO diante dela, provavelmente SENTIR o cheiro dele, ou até mesmo das flores, da grama lá fora...de qualquer coisa que ela vai associar com aquele momento...provavelmente SENTIR algum gosto na boca...ou não sentir nada...vai que a boca ficou seca??? E SENTIR, com antecipação e expectativa, a mesma certeza do TOQUE dele.

É uma verdadeira explosão de sentidos...tão maravilhosamente insuportável porque é algo que não cabe em si. Uma alegria que dói.

Uma única "cena" em um livro...uma única "cena" em um filme pode proporcionar, mesmo que por breves míseros segundos, o gostinho de vivenciar tudo isso...

E então, quando eu me deparo com uma cena tão mal escrita, tão mal formulada, tão vazia de sentimentos como foi a desse filme...eu fico chocada! Horrorizada mesmo!!!

Acho que eu sou um pouquinho parecida com a Marianne Dashwood...que não suporta ouvir o Edward Ferrars lendo o soneto 116 do William Shakespeare sem o mínimo de emoção e ela o ensina como ler aquele soneto...

"De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora,
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.

Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou"


E, quase no finalzinho do filme, quando ela vai até a casa do Willoughby, embaixo daquela chuva tão significativa pra esse soneto, ela recita o comecinho do soneto...e é tudo muito intenso...



Eu realmente não sei fazer um review de um filme, de um livro...não consigo ser imparcial. Razão e Sensibilidade é o meu romance favorito da Jane Austen...
O soneto 116 do William Shakespeare é realmente o meu soneto preferido dele...

O romance e o soneto fazem todo o sentido pra mim. Eu realmente gostaria de ser imparcial mas não consigo...e nem sei se quero...e nem sei se devo.